Fotos: Ricardo Stuckert

No dia 19 de março de 2017, Lula e Dilma estiveram em Monteiro, na Paraíba, para realizar a inauguração popular da Transposição do São Francisco. Um evento que reuniu mais de 50 mil espectadores no município e ficou marcado pra sempre na história de cada nordestino. Era a água do Velho Chico chegando na casa do sertanejo.

Quase dois anos e meio depois, mais precisamente 897 dias passados, a Caravana Lula Livre retornou a Monteiro, no Cariri Paraibano, nesse domingo (1°), com duas missões bem transparentes: denunciar o abandono proposital de Bolsonaro com a obra e marcar posição na luta pela liberdade do presidente Lula, preso injustamente há mais de 500 dias em Curitiba. 

Bolsonaro quer sucatear a obra mais importante do Nordeste.

– Humberto Costa

O evento, liderado pelo candidato a presidente em 2018 Fernando Haddad (PT), o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB), a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), o senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB), a vice-governadora de Pernambuco Luciana Santos (PCdoB) e diversas outras lideranças politicas foi denominado de SOS Transposição O Grito do Nordeste.

“Bolsonaro não representa o Nordeste. Estamos aqui em Monteiro com essa tarefa de gritar por todos os nordestinos. O primeiro grito é pela liberdade do presidente Lula. O homem que mais fez até hoje pelo nosso povo. O segundo grito é pra Bolsonaro ouvir: nós não vamos aceitar que o governo dele faça com a obra da transposição o que está fazendo com as políticas públicas do Brasil, com a educação, com a saúde. Nossa luta agora se amplia. Bolsonaro está fazendo um movimento para sucatear a transposição, suspendendo o abastecimento de água  para deteriorar tudo e, depois, culpar governos anteriores”,  denunciou o senador Humberto Costa.

O público, formado principalmente por moradores do Sertão, mostrou indignação com o descaso criminoso de Bolsonaro. O ex-governador Ricardo Coutinho ressaltou a participação popular na construção do ato e denunciou o descaso proposital do presidente da República com a obra “mais importante do Nordeste”. 

“Lula e Dilma construíram um sonho muito antigo do povo nordestino. A transposição para nós é inegociável. Quem já sentiu o sabor e o frescor dessas águas do São Francisco não vai aceitar, nem debaixo de pau e pedra, voltar a carregar galões de água na cabeça. Só na Paraíba, a transposição pode garantir segurança hídrica para mais de 20 cidades. Lula e Dilma já fizeram 97%, só restam 3%. Isso aqui foi só o início, peço aos deputados federais e aos senadores que entrem com uma representação contra Bolsonaro no Ministério Público, por mais este crime contra a humanidade”, afirmou o ex-governador. 

O ex-ministro Fernando Haddad (PT), que esteve na inauguração popular de dois anos atrás, destacou a força do povo sertanejo e lembrou de alguns programas sociais dos governos de Lula e Dilma, traçando um contraponto com o governo de Jair Bolsonaro.

“O que está acontecendo aqui na transposição é tão grave quanto a questão da Amazônia. O mundo precisa olhar pra cá também. Bolsonaro é sangue ruim, não gosta do povo. Deveria estar aqui prestando contas dos motivos de ter parado a obra. Ele acha que ofende alguém chamando de “paraíba”. Ofensa é alguém chamar a gente de Bolsonaro. Quando Bolsonaro corta a água da transposição ele não tá acabando com a água apenas, aqui têm escolas, universidades, que também dependem desse abastecimento. Os investimentos dos governos do PT no Nordeste trouxeram grandes resultados para esse povo batalhador. Todo dia, a gente vê nordestino sendo aprovado nos grandes centros de excelência, em universidades federais, conquistando prêmios e realizando sonhos”, destacou Haddad. 

O petista, que concorreu à Presidência da República no ano passado e teve mais de 47 milhões de votos, questionou o que Bolsonaro fez enquanto passou 28 anos no Congresso Nacional.

“Se educa uma nação com o exemplo. O exemplo que Bolsonaro dá é querer arrumar uma boquinha na embaixada para o filho. E olhem, se procurar bem a vida de Bolsonaro, vem chumbo grosso aí… Ele passou 28 anos e não cumpriu seu papel de deputado, nunca fez uma coisa boa, se nesse tempo todo não teve nada bom, o que ele fazia lá?”, questionou. 

O ato contou com apresentações culturais de artistas e um show do cantor Chico César, que esquentou ainda mais o evento. 

O final da manifestação foi tomado por um momento de muita emoção, em que Ricardo Coutinho fez a leitura de uma carta enviada pelo presidente Lula para o povo do Nordeste.

GALERIA DE FOTOS

Encerramento da Caravana Lula Livre no ato “Grito do Nordeste”, com Haddad em Monteiro

CARTA DE LULA


“A oportunidade que me foi dada pelo povo brasileiro de governar esse país fez de mim  um homem feliz. Vocês não imaginam a alegria que eu sentia quando assinava um decreto para beneficiar milhares ou milhões de pessoas ou quando inaugurava uma universidade, uma escola técnica, uma refinaria, um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, porque eu sabia que qualquer um  desses atos, por mais simples que fosse, estava contribuindo para a construção de um Brasil melhor e mais justo.


Poucas coisas na vida me fizeram tão feliz quanto tirar do papel um sonho de muitas gerações e tornar realidade a transposição do rio São Francisco. Uma das melhores lembranças que tenho é a inauguração popular que fizemos em 2017, aí em monteiro, com a presença da ex-presidenta Dilma, do ex-governador Ricardo Coutinho e de muitos de vocês que aí estão de novo, desta vez protestando e exigindo de volta aquela alegria que estão roubando de nós.


Ver a criançada mergulhando e o povo dançando e bebendo daquela água que o sertanejo esperava desde a época do Império. Nada disso tem preço. Não há dinheiro no mundo que pague os abraços que naquele dia eu recebi de tanta gente molhada do suor do seu trabalho e encharcada das águas do São Francisco. Tenho certeza de que aquelas cenas que vivemos, que estarão guardadas para sempre na minha memória, foram vistas com ódio pelos nossos adversários e hão de ter contribuído para que eu fosse preso sem nenhum crime cometido.


Fico imaginando a elite desse país vendo aquela felicidade toda e dizendo: temos que prender esse Lula senão ele vai ser presidente outra vez e a gente não vai poder mais tirar dinheiro do trabalhador e entregar para o mercado financeiro. Por isso me prenderam e querem a todo custo impedir que o povo volte a governar esse país. É por isso que estão tentando destruir tudo o que fizemos.
Estão queimando a Amazônia, que defendemos como nenhum outro governo, estão desmontando a construção civil que gerou milhões de empregos. 


Estão entregando o pré-sal, cujos recursos viriam para a saúde e a educação. Estão sufocando as universidades porque geram conhecimento e estão agora ocupadas pelas filhas e filhos do povo trabalhador.


Por isso eles não querem as águas do São Francisco correndo pelo sertão, porque não querem o povo feliz, produzindo, conquistando a sua autonomia. Naquele dia, em 2017, eu disse: nunca quis tirar nada do sul ou de São Paulo. O que eu quero é que o povo nordestino seja tratado em igualdade de condições.


Aqui tem de ter universidade, tem que ter indústria, tem que ter escola técnica, tem que ter mestres e doutores, tem que ter crianças de barriga cheia, pois eu continuo querendo e estou certo de que nós vamos desfazer cada maldade que fizeram com o Nordeste e que fizeram com o Brasil. 


Hoje eu só posso estar com vocês em pensamento, mas muito em breve estarei aí em carne e osso, molhando o corpo nas águas abençoadas do Velho Chico.”

Um grande abraço. 

Luiz Inácio Lula da Silva