Construção de nova fábrica de hemoderivados gera especulações sobre o desmonte da Hemobras

Humberto: O que vai acontecer com os R$ 820 milhões que foram investidos pelo Governo Federal? Vão jogar no ralo? Foto: Roberto Stuckert Filho
Humberto: O que vai acontecer com os R$ 820 milhões que foram investidos pelo Governo Federal? Vão jogar no ralo? Foto: Roberto Stuckert Filho

A notícia de que o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PMDB), planeja a construção de uma nova fábrica de hemoderivados no seu reduto, a cidade de Maringá (PR), gerou preocupação ao líder da Oposição e ex-ministro da Saúde, Humberto Costa (PT). Segundo o senador, a medida pode esvaziar a ação da Hemobras em Pernambuco e, consequentemente, trazer prejuízos ao Estado.
“A Hemobras foi criada com o objetivo de garantir a autossuficiência em derivados de sangue no Brasil e já é uma realidade, um patrimônio de Pernambuco O que vai acontecer com os R$ 820 milhões que foram investidos pelo Governo Federal? Vão jogar no ralo?”, questionou Humberto. O senador também lembrou que o Governo do Estado é um dos acionistas da empresa e cobrou uma ação “enérgica” para evitar o esfacelamento da fábrica.
O líder da Oposição disse ter acendido o alerta sobre o desmonte da Hemobras a partir de uma nova portaria do Ministério da Saúde, do dia 4 de abril de 2017. A portaria retira da fábrica a responsabilidade do fracionamento do plasma captado no Brasil. Com cerca de 48 mil metros quadrados, a fábrica de hemoderivados em Goiana tinha a gestão do plasma como um dos carros-chefes da empresa. O documento também fala na “necessidade de revisão do modelo de negócio”.
As suspeitas sobre o esvaziamento da empresa se agravaram ainda mais após as declarações do ministro sobre a construção de uma nova fábrica de hemoderivados no Paraná. Com base na portaria, o senador pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde e convocou Ricardo Barros para participar de audiência pública no Senado.
“Não vamos permitir que destruam uma empresa como a Hemobras. Já é uma prática recorrente do governo golpista. Primeiro desmonta, quebra o patrimônio público, e depois vende a preço de banana. Vamos pedir explicações ao ministro e saber quais são as reais intenções para construir uma nova fábrica no seu reduto eleitoral quando temos aqui uma empresa de hemoderivados com um enorme potencial para ser explorado”, afirmou.
O senador também lembrou que, por causa da Hemobras, foi montado um polo farmacoquímico e outras empresas estão se instalando em Pernambuco. Uma delas é a Aché, que anunciou, este ano, a instalação de uma nova fábrica com investimento R$ 500 milhões. O novo empreendimento vai gerar 500 empregos diretos e 2.5 mil indiretos.
O próprio Ministério Público e o TCU também já fizeram pedidos formais de esclarecimentos ao Ministério da Saúde sobre a nova fábrica. Um dos pontos de questionamento dos órgãos de controle é a possibilidade de criação de um novo consórcio entre a Hemobras e os laboratórios Tecpar, Butantan e Octapharma, empresa condenada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por formação de cartel.
“O ministério já tem uma política muito bem sucedida (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo – PDP) que dita as regras do acordo de cooperação entre a Hemobras e um laboratório privado para transferência de tecnologia. Além de não explicar porque pretende construir uma nova fábrica, já que existe uma funcionando em Pernambuco, o ministro também deixa dúvidas sobre a legalidade deste novo consórcio. A única justificativa plausível para tudo isto é o imenso desejo do ministro de fazer barganha política com o dinheiro público”, concluiu.